No acumulado em 12 meses, taxa caiu para 43,5%. País passa por um grande ajuste econômico sob o comando de Javier Milei. Em abril, o presidente alcançou um acordo de US$ 20 bilhões com o FMI, em um voto de confiança do fundo internacional. Presidente da Argentina, Javier Milei.
Ciro De Luca/ Reuters
A inflação da Argentina ficou em 1,5% em maio, apontou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) divulgado nesta quinta-feira (12) pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Essa é a menor inflação mensal do país desde maio de 2020, quando o índice atingiu iguais 1,5%.
O resultado representa uma desaceleração em relação aos 2,8% registrados em abril. Enquanto isso, a inflação acumulada em 12 meses até março atingiu 43,5%, abaixo da taxa de 47,3% registrada no mês anterior.
O setor de maior alta em maio foi o de comunicação (4,1%). Na sequência, vieram restaurantes e hotéis (3%), saúde (2,7%), bens e serviços diversos (2,6%) e habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis (2,4%).
Os dados mostram que o índice oficial de preços do país apresentou progresso ao longo do primeiro ano de gestão do presidente ultraliberal Javier Milei. Nos últimos meses, no entanto, a taxa mensal estagnou próxima de 2% e 3%. Agora, registrou desaceleração mais forte.
O presidente Javier Milei compartilhou nas redes sociais diversas publicações que comemoram os resultados. No X (antigo Twitter), o presidente se limitou a escrever uma explicação técnica sobre o aumento de preços.
“A inflação é sempre e em todo lugar um fenômeno monetário gerado por um excesso de oferta de dinheiro. Seja porque a oferta aumenta, a demanda cai ou ambos ao mesmo tempo, isso faz com que o dinheiro perca poder de compra e que os preços em dinheiro subam”, publicou.
A Argentina, que já vinha enfrentando uma forte recessão, passa por um grande ajuste econômico. Após tomar posse, em dezembro de 2023, Milei decidiu paralisar obras federais e interromper o repasse de dinheiro para os estados.
Foram retirados subsídios às tarifas de água, gás, luz, transporte público e serviços essenciais. Com isso, houve um aumento expressivo nos preços ao consumidor.
O país também observou uma intensificação da pobreza no primeiro semestre de 2024, com 52,9% da população nessa situação. No segundo semestre, o percentual caiu para 38,1% — um total de 11,3 milhões de pessoas. A insatisfação da população despertou protestos pelo país.
Por outro lado, o presidente conseguiu uma sequência de superávits (arrecadação maior do que gastos) e retomada da confiança dos investidores.
Acordo com o FMI
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A melhora nos indicadores econômicos fez com que Milei alcançasse, em 11 abril, um acordo de US$ 20 bilhões em empréstimos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A primeira parcela, de US$ 12 bilhões, foi disponibilizada ao país poucos dias depois.
O repasse dos recursos representa um voto de confiança do fundo internacional no programa econômico do presidente argentino. Os valores anunciados se somam a dívidas antigas do país junto ao FMI, que já superavam os US$ 40 bilhões.
Nesse cenário, reduzir a inflação é fundamental para o governo do líder argentino, que deseja eliminar completamente os controles de capitais que prejudicam os negócios e os investimentos. Para isso, Milei quer que a inflação permaneça abaixo de 2% ao mês.
Após o acordo com o FMI, o banco central da Argentina anunciou uma redução dos controles cambiais, o chamado “cepo”. A flexibilização determinou o fim da paridade fixa para o peso argentino e introduziu o “câmbio flutuante” — quando o valor da moeda é determinado pela oferta e demanda do mercado.
Com isso, o governo de Javier Milei ensaia o fim do sistema de restrição cambial que estava em vigor desde 2019, limitando a compra de dólares e outras moedas estrangeiras pelos argentinos.
Em suas ações mais recentes, o governo e o Banco Central da Argentina lançaram medidas de naturezas monetária, fiscal e cambial para injetar dólar no país. O objetivo é fortalecer o cumprimento do acordo com o FMI para recuperação econômica.
Em 22 de maio, o governo anunciou sua decisão de permitir que os cidadãos utilizem dólares mantidos fora do sistema financeiro — ou seja, guardados “debaixo do colchão” — sem a obrigatoriedade de declarar a origem dos recursos.
Na última terça (10), lançou medidas como a flexibilização no uso de pesos e dólares no mercado de títulos públicos e um plano de captação de empréstimo de US$ 2 bilhões com emissões de títulos. Além disso, se comprometeu a reduzir a emissão de moeda pelo BC.
O objetivo do governo é estabilizar a inflação, reforçar as reservas comerciais do país, melhorar o câmbio e atrair investimentos, enquanto busca avançar no forte ajuste econômico promovido por Milei.
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