Reservas estarão no edital Enem-Unicamp, que já contempla ações afirmativas. Maioria deverá ser adicional, sem reduzir o total de lugares disponíveis, diz Comvest. Estudantes realizam a segunda fase do vestibular da Unicamp
Pedro Amatuzzi/g1
Com a proposta de ampliar o acesso ao ensino superior, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aprovou, no início do mês, a criação de cotas para pessoas trans, travestis e não-binárias no processo seletivo da graduação.
Ao g1, o diretor da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest), José Alves de Freitas Neto, tirou as principais dúvidas sobre a medida e garantiu: as vagas de ampla concorrência não serão afetadas.
⬇️ Veja abaixo o que muda — e o que não muda — no sistema de ingresso na Unicamp após a decisão.
As cotas trans tiram vagas da ampla concorrência?
Não. Segundo José Alves, as vagas específicas para pessoas trans estarão inseridas no edital Enem-Unicamp, que já é voltado para ações afirmativas, como as cotas para estudantes de escolas públicas e para candidatos pretos e pardos.
Por isso, a ampla concorrência — que reúne candidatos de escolas públicas e privadas no vestibular tradicional da universidade — não será prejudicada.
“Temos ainda a expectativa de que a maior parte das vagas venham a ser oferecidas como vagas adicionais. Por isso que nós estamos falando que as vagas não são retiradas da ampla concorrência”, frisou.
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Como as fraudes serão combatidas?
O processo de seleção prevê que os candidatos façam uma autodeclaração no momento da inscrição. Depois, deverão enviar um relato de vida, onde vão descrever a trajetória de transição e o processo de afirmação da identidade de gênero.
Esse relato de vida será avaliado por uma comissão que deverá ser composta por, no mínimo, uma pessoa trans, travesti ou não-binária.
Freitas explicou que a universidade não vai analisar a qualidade do relato, mas poderá usá-lo caso haja necessidade de apuração de fraude. “Se o documento for falso, permite cancelar a matrícula”, afirmou.
G1 Explica: transição de gênero
O que acontece se a vaga não for preenchida?
A nova política de cotas aprovada pela universidade prevê a reserva de pelo menos uma vaga em turmas com até 30 estudantes. Ou seja, como são vagas adicionais, as turmas terão 31 alunos. Já nos cursos com mais de 30 vagas serão no mínimo duas vagas adicionais.
Segundo dados da Comvest, no Vestibular 2025 da Unicamp, houve 279 candidatos inscritos com nome social. Destes, 40 foram convocados. Os cursos mais procurados foram artes visuais, ciências biológicas e medicina.
Caso não haja candidatos trans aptos para determinada vaga, ela será redistribuída, explicou o diretor. Se for uma vaga adicional, não há obrigação de preenchê-la. Se for uma vaga regular, ela vai automaticamente para a ampla concorrência.
“Há vagas que muitas vezes não serão preenchidas porque não há o perfil. Hoje, por exemplo, no vestibular, algumas carreiras como engenharia civil não tinham nenhuma pessoa trans concorrendo a esse curso”, relatou.
Por que criar cotas para pessoas trans?
Ainda de acordo com o diretor da Comvest, a iniciativa busca responder à sub-representação de pessoas trans na universidade, além de estar em sintonia com as políticas de direitos humanos da Unicamp.
Em setembro de 2024, o Conselho Universitário da Unicamp (Consu) já havia aprovado as cotas para pessoas com deficiência (PCDs) nos cursos de graduação para ingresso utilizando a nota do Enem.
“A universidade dá um passo a mais em relação ao seu compromisso com a inclusão e com o compromisso de ter uma universidade plural, diversa e socialmente referenciada”, destacou.
Comemoração após a aprovação da proposta de cotas trans na Unicamp
Antonio Scarpinetti/Unicamp
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